Juggler Rogério Piva
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UM BREVE RELATO DO PORQUE DESCENTRALIZAR - Rogério Piva

UM BREVE RELATO DO PORQUE DESCENTRALIZAR - Rogério Piva

"Hoje, entramos em duas comunidades, como sempre nos olharam curiosos, as crianças saiam pelas portas e janelas e as que já estavam na rua, se aproximavam sem o menor receio, das vielas, as canelas e pés descalsos vinham em passos rápidos.
Bem, ao lado de mais 4 amigos, Rodrigo Durval,
Clayton Willian
, Maurício Kassae e Cinthia Araujo. Além do show, entregamos ovos de pascoa.
O relato que quero contar, remete a uma realidade comum do lado de cá, onde poucos realmente se importam...
Entramos até onde o carro podia, depois, segui uma caminhada a pé enquanto meus amigos me esperavam mais acima. Fui andando pelos becos com minha caixa de som, alarmando a todos que iria haver show e teríamos ovos de páscoa para as crianças. Na minha caminhada entre pedregulhos, sacos de terra, fui passando pelos castelos de madeira a beira do esgoto a céu aberto, cumprimentando a todos que me encaravam sem receio. Cheguei até o fim da rua que cruzava todo o assentamento. Parei quando cheguei na rua de asfalto que dividia a entrada De um lado, tijolos e cimento, do outro, paredes de madeirite e telhas.
Aqui meu coração doeu. Nesse momento, um jovem, de aproximadamente 13 anos, sem camisa, se aproximou:
__ Mano, eu quero um ovo de páscoa!
__Sobe la na entrada, não conseguimos descer com tudo, então to chamando a galera pra ir até lá.__ Eu disse a ele.
__ Eu não posso sair daqui, estou na contenção da favela.
Vi o rádio comunicador que ele carregava na mão e percebi sua função ali. Estava a serviço do trafico e alertava ao comando qualquer coisa diferente na comunidade.
Eu insisti que ele fosse e rapidamente um outro maior chegou e o garotinho pediu autorização. O cara respondeu:
__Você vai fazer o que lá, você não é criança.
__Claro que sou criança, quero um ovo de páscoa.
__ Você não pode sair daqui, se liga na tua sintonia.
Ele me disse lamentando que não subiria e que a favela dependia dos olhos dele também.
Ele insistia em ser criança e queria ter seu ovo, mas ele é um soldado, não poderia deixar seu posto.
Depois de mais um tempo convidando a galera, subi novamente as vielas, eu já tinha percebido antes todo o movimento que acontecia entre muitos jovens que fui tendo contato, mas aquela criança me chocou pela sua vontade de querer continuar sendo criança.
Enquanto subia aquela rua improvisada de pedregulhos, toda desnivelada, meus olhos se encheram, pois é só mais uma criança abandonada a própria sorte, condenada pelo esquecimento, pela injuria, pelo descaso, intolerancia, pela falta de compaixão.
Foram duas comunidades, fizemos shows e entregamos 350 ovos de páscoa, que sairam mais baratos do que as festas que as pessoas fazem cheias de álcool e outras drogas. Atingimos duas comunidades.
Ao fim de tantos abraços e agradecimentos, guardei um último ovo e atravessei a favela para entregar o ovo para aquele garoto. Ele me viu chegar, olhou o local, falou algumas coisas no rádio e recebeu feliz o presente. Foi correndo guardar na geladeira para comer depois do serviço. Fiquei pensando. Tomara que ele ainda esteja lá mais tarde para comer.
Hoje foi uma tarde que chorei, e muito."

Rogério Piva

 

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